SINOPSE
Os jovens de hoje não largam o computador, estão trocando o mundo real pelo virtual! Para de ver televisão, menino, e vai fazer algo mais produtivo! Quantas vezes não escutamos frases assim? Steven Johnson, um dos principais pensadores do ciberespaço, foi conferir o que é verdade e o que é mito em afirmações como essas.
O resultado é uma defesa da cultura pop. Segundo ele, jogos de computador, séries de TV, blockbusters e internet estimulam muito do sistema neurológico e cognitivo e possibilitam o desenvolvimento de capacidades que as gerações passadas nem sonhavam que pudessem existir. Por conta disso, estamos nos tornando mais inteligentes, capazes e informados.
Johnson traça um panorama otimista do mundo contemporâneo. Amparado por disciplinas que vão da neurociência à economia, mostra como a sociedade está indo de forma rápida e estimulante em direções que ainda não entendemos completamente.
Já tinha comprado o livro há duas semanas mas ainda não tinha encontrado tempo de ler. Por duas vezes tirei da mochila, comecei mas tive que parar ainda na introdução. Estava me coçando. Quando finalmente consegui algumas horas devorei o livro com vontade. Acabei de ler e ainda estou tentando trazer o cérebro de volta ao estado de repouso após o turbilhão de informações. Faz muito tempo que não leio algo tão bom.
A cada parágrafo fazia uma pausa e pensava em uma série de pessoas com quem ‘precisava compartilhar’. Talvez muito disso seja por influência de blogs, fóruns, twitter e facebook, que nos estimulam, cada vez mais, a compartilhar cada pensamento, sentimento ou qualquer fato ‘interessante’ que nos acontece. Mas a verdadeira vontade é ligar pra editora, encomendar caixas e mais caixas do livro e presentear uma série de pessoas. Penso mesmo que muitos dos meus amigos precisam ler isso.
Em inglês: Everything Bad Is Good for You: How Today’s Popular Culture Is Actually Making Us Smarter.
Talvez o sub título em inglês ‘Como a cultura popular atual está nos deixando mais inteligentes’ seja mais adequado e deveria ter sido assim traduzido. Acho que a ideia da editora foi dar um título mais comercial, embora pense que esta pode ter sido uma estratégia equivocada. Afinal, aqueles que torcem o nariz para os jogos continuarão sem ler o livro. E o público alvo talvez não seja exatamente o mesmo que o receptor modelo da mensagem. Aqueles interessados em cultura de massas podem descartar o livro por pensarem ser algo mais direcionado ao universo dos jogos eletrônicos. O que não deixa de ser verdade quando se avalia o título em conjunto com a capa.
Embora os games sejam o assunto quase exclusivo do primeiro capítulo, eles são apenas parte do livro. Na verdade o autor se desdobra, na maior parte, sobre televisão. Mais especificamente sobre séries e reality shows. E como fundamento para toda sua argumentação: conceitos de inteligência, testes de QI e Inteligência Emocional.
Johnson possui um texto direto, objetivo, sem floreios desnecessários, com alto grau de embasamento e um poder de construção do pensamento de dar inveja. Não fica dúvida de que ele foi extremamente feliz nesse trabalho.
No início ele mostra como nossa geração foi transformada pelo advento dos jogos eletrônicos e como isso contribui para a inteligência de crianças, adolescentes e até dos adultos. Além do já tão reconhecido incremento na agilidade e destreza manual, os jogos também podem contribuir para nossa inteligência como um todo. Eles podem melhorar a capacidade de raciocínio, o pensamento espacial e temporal, no reconhecimento de padrões, aumenta consideravelmente o poder de concentração, contribui para a habilidade de acompanhar narrativas (que costuma ser atribuída exclusivamente aos livros), ajuda no desenvolvimento da capacidade de tomada de decisões e, como consequência de tudo isso, ainda contribui para o ‘aprender a aprender’.
Na segunda parte ele fala da TV. E compara a programação atual à de 30 anos atrás (o livro foi escrito em 2005). Ao contrário da premissa de que a TV, para existir, requer uma audiência completamente passiva e limitada à absorção de informações, o que se encontra hoje é uma audiência que foi sendo moldada a um patamar maior de exigência intelectual. Enquanto séries da década de 70 eram marcadas por um pequeno núcleo de personagens onde uma história principal se desenrolava por capítulo, o que vemos hoje é um cenário muito diferente. Séries como Os Simpsons, 24 Horas, Seinfeld e Família Soprano desconstruíram esse mito. Nelas temos uma quantidade muito maior de personagens – fixos ou não – com ligações que nem sempre estão completamente esclarecidas, e com diversas tramas paralelas que se desenrolam no mesmo intervalo de tempo das séries de 30 ou 40 anos atrás (aproximadamente 45 minutos de produção por episódio). Além disso, a audiência precisa estar preparada para dar conta da enorme quantidade de referências à cultura de massas que costuma ser inserida em cada episódio – como acontece com as ‘visitas’ de personalidades em Os Simpsons. Segundo Johnson, a capacidade intelectual exigida para acompanhar essas séries (e quase toda programação da TV) é muito maior hoje do que ocorreria há 30 ou 40 anos.
Johnson mostra que o QI médio da população estadunidense tem aumentado, em média, 3 pontos por década, desde 1960. Mas que esse aumento do QI médio não foi seguido pelos resultados em testes como o PSAT (teste de nivelamento equivalente ao nosso ENEM) – descartando a melhora no sistema educacional como responsável por esse incremento. Seguindo um processo convincente de eliminação, ele também afirma que esse aumento não se deve às condições de saúde ou melhora na qualidade alimentar.
Com base em toda essa construção – que se desenvolve por muitas páginas e que foi grosseiramente resumido aqui – Johnson conclui que o aumento na complexidade da programação das TVs (de séries a reality shows), o surgimento de novas tecnologias, o desenvolvimento dos jogos eletrônicos, a explosão da internet e das interfaces computacionais parecem ser os únicos responsáveis pelo aumento da nossa inteligência coletiva.
É uma boa leitura para quem trabalha com games ou tem os jogos eletrônicos como hobby. Mas é algo OBRIGATÓRIO para aqueles que trabalham/estudam educação ou comunicação – principalmente TV. Isso é sério!
Mais sobre o livro e sobre Steven Johson:
No site da editora
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