Quando se usa uma fonte em um projeto é preciso entender que aquilo é resultado do trabalho de uma pessoa ou de uma equipe. Na maioria das vezes, um trabalho de meses. Se alguém trabalhou, tem todo o direito de cobrar e ser remunerado por isso. Também é justo não querer pagar por uma. Mas se você não quer ou “não pode” pagar, recorra a uma fonte gratuita. Não pirateie. Existem muitas fontes grátis por aí. Se essa é a sua opção, escolha muito bem uma fonte gratuita ou esteja preparado para as consequências dessa escolha.

Sem cair no clichê de que “o barato sai caro”, existem boas fontes grátis à disposição, como veremos ainda nesse artigo. Mas não dá pra comparar o trabalho de uma pessoa ou estúdio de type design com o trabalho amador/experimental que se encontra em um site como o DaFont. O normal no DaFont são fontes incompletas. Em alguns casos faltam coisas básicas para línguas latinas como acentos. Em quase todos faltam caracteres especiais. Sem contar com detalhes mais técnicos que você NUNCA vai encontar numa fonte dessas. Escolher algo do DaFont pra um projeto talvez seja comparado a ir em um leilão do Detran quando você quer comprar um carro. Tecnicamente você pode sair de lá com um “veículo”. Mas vai sair dirigindo um carro com conforto e segurança?

Um pouquinho de história

Em 1984 surge a tecnologia PostScript. A Adobe, Apple e Xerox se unem para criar uma tecnologia que daria início ao Desktop Publishing (DTP). Uma das bases dessa tecnologia foi o desenvolvimento das primeiras fontes vetoriais para computadores: as fontes Type1, também conhecidas como fontes PostScript. Foi uma revolução que mudou a forma de trabalho em editoras, jornais, revistas, agências de publicidade e escritórios de design. Essa tecnologia seguiu evoluindo com o desenvolvimento das fontes TrueType (1991) e OpenType (1996)ー um grande passo que precisa de um post específico pra fala desses recursos.

Existem 2 grandes bibliotecas de fontes disponíveis para o trabalho de designers sem a necessidade de arcar com um custo extra: a biblioteca da Adobe ー disponível para quem tem assinatura do Adobe Creative Cloud ー e a biblioteca do Google ー que é grátis. Você não precisa baixar fontes piratas para usar em um projeto. Tente se imaginar no lugar de quem criou aquilo.

Adobe Fonts

A biblioteca da Adobe pode ser acessada no site fonts.adobe.com. Essa é a versão mais completa e mais fácil de trabalhar. Em julho de 20202 ela reúne o trabalho de 190 type foundries. Eu não consegui uma informação atualizada, mas há alguns anos eram mais de 7 mil famílias com aproximadamente 20 mil fontes disponíveis. Uma quantidade dessas deve atender a quase todos as necessidades de um profissional ou uma empresa.

Como usar o Adobe Fonts?

O serviço fica ativo por padrão mas é sempre bom verificar se a ativação de fontes está habilitada em sem computador. Você precisa abrir o Adobe Creative Cloud e ir em Arq -> Preferências.

Vai aparecer uma janela e você escolhe a opção Serviços. O item Adobe Fonts precisa estar ativado como aparece na imagem.

É preciso estar conectado à internet para que uma nova fonte seja ativada (instalada) no computador. Depois da ativação, elas funcionarão com ou sem internet.

É muito comum trabalharmos com arquivos que passaram pelas mãos de outros profissioais. E às vezes lidamos com fontes que não estão habilitadas. Se essa for uma fonte da biblioteca da Adobe, não precisamos fazer nada. O Creative Cloud ativa essa fonte automaticamente. Aí é só seguir trabalhando.

Como habilitar uma fonte para um novo projeto?

Se você quer escolher uma ou mais fontes para um novo projeto, basta ir em fonts.adobe.com, fazer o login com sua conta da Creative Cloud e buscar alguma opção na biblioteca. Existem diversos critérios disponíveis para a busca. Depois de escolhida a família, é só clicar no botão para ativar todos os pesos ou apenas nos pesos específicos.

Alguns segundos depois aparece essa mensagem no seu computador.

A Abobe fez um esse vídeo de quase uma hora com Paul Trani

Uma observação importante

O Indesign e o Illustrator permitem que se gere um pacote do projeto com todos os arquivos usados no projeto, incluindo imagens e fontes. Mas existe uma grande discussão sobre direito autoral. A pessoa pode ter licenciado uma fonte para uso em seus projetos mas ela não pode repassar essa fonte para terceiros. Isso é pirataria. Se você recebe um pacote de arquivos de um determinado projeto com fontes, existe a possibilidade de você não ter licença para uso dessas fontes. A Adobe sempre foi alvo de críticas por parte de type designers por praticamente “estimular” a pirataria ao permitir esse envio. A forma que eles encontraram pra resolver parcialmente esse problema foi com o desenvolvimento do TypeKit que depois passou a se chamar Adobe Fonts. Desde o TypeKit não é mais possível o envio da fontes da biblioteca Adobe junto com o pacote. Na verdade o usuário nem consegue localizar essas fontes do Adobe Fonts no próprio computador. Elas ficam criptografadas e ocultas. No fechamento do pacote só é possível enviar as outras fontes que estejam instaladas no computador do usuário. Por enquanto.

Google Fonts

A segunda opção para quem quer buscar fontes sem precisar arcar com um custo a mais é a biblioteca de fontes do Google. A biblioteca do Google hoje tem 1.024 famílias e aproximadamente 3 mil fontes. O site é fonts.googe.com

Uma explicação: Em algum momento durante o desenvolvimento do Google Docs, a equipe percebeu que precisava de fontes para essas aplicações. Não seria viável recorrer às “web safe fonts”. Então eles resolveram licenciar diversas fontes para o uso na plataforma. Esse licenciamento foi “ampliado” e as fontes também passaram a atender o desenvolvedores de web com web fonts e quem mais quisesse usar as fontes disponibilizadas para download no fonts.google.com. Essas não são fontes que “estavam disponíveis na internet” para quem quisesse usar. São fontes desenvolvidas por profissionais e que foram licenciadas pelo Google. Algumas já existiam e outras foram encomendadas. O Google PAGOU para você poder usar essas fontes quando e onde quiser. No caso da Adobe, ela também licenciou essas fontes mas dilui esse valor na assinatura da Creative Cloud.

Você pode acessar o site e baixar cada uma delas pra depois fazer a instalação no seu computador de acordo com a necessidade. O Google deixa bem claro que você pode baixar e distribuir essas fontes como quiser sem que isso seja entendido como pirataria. Só não é permitido comercializar essas fontes.

Descontando as particularidades jurídicas que eu não teria competência para discutir, é o mesmo tipo de licenciamento que encontramos quando abrimos o painel de fontes em um sistema operacional. A Times New Roman só está disponível no seu computador porque Apple e Microsoft pagaram ou pagam pelo licenciamento daquela e de muitas outras fontes. Assim como aquela música do Spotify, o filme na Netflix ou o ebook no Kindle.

Existe uma opção mais simples de usar essas fontes sem precisar baixar cada uma delas. Essa forma é usando um gerenciador de fontes chamado FontBase.

O FontBase

É um gerenciador que vem com um “plus”. Toda a biblioteca de fontes do Google está disponível sem que você precise baixar cada uma das fontes pro seu computador. E sempre que o Google licenciar uma nova fonte, ela também aparecerá ali. Basta buscar por uma fonte específica, ativar e usar. O FontBase também pode ser usado para gerenciar as outras fontes que você tem no seu computador. Mas aí é discussão pra outro post.

Só existem essas opções?

Não. Exitem outros serviços de assinatura e infinitas famílias tipográficas disponíveis para licenciamento em sites como MyFonts, Linotype, FontShop… Depende do quando se quer ou pode pagar. Em alguns casos, isso pode ser muito justo e compensador. Em outros, pode tornar o projeto inviável.

Também existem designers que disponibilizam fontes bem projetadas e gratuitas em sites como Behance, por exemplo. É preciso, porém, ficar atento pois algumas dessas fontes só são gratuitas para uso em projetos pessoais. É preciso pagar pelo licenciamento se você vai usar a fonte em um projeto comercial.

E as web fonts?

Nos dois casos, Adobe Fonts e Google Fonts, as fontes também estão disponíveis para uso em aplicações web. Mas aí é assunto pra mais um post.

Links para as bibliotecas de fontes

You May Also Like