Uma vez fui almoçar em um lugar e notei que várias das facas da casa tinham as pontas tortas. O dono não tinha chaves de fenda e, quando precisava, usava as facas para apertar parafusos. O resultado foi a customização de quase todos os talheres.

Todos os utensílios que encontramos à nossa disposição foram produzidos para um determinado objetivo: a faca foi feita para cortar, a chave de fenda para apertar parafusos e o celular para se comunicar com outros – e não para ouvir música no ônibus/metrô!

Esses equívocos não se restringem ao ambiente doméstico. Muitos também são cometidos no ambiente profissional. Falando da área do design e publicidade, um problema está no uso de softwares em funções para as quais não foram projetados. Para demonstrar o que quero dizer vamos falar do trio Adobe Photoshop, Adobe Illustrator e Adobe InDesign.

Cada um deles foi feito para uma função específica. E deveria ser usado desta forma. A Adobe tem quase 30 anos de mercado com equipes trabalhando de forma quase independente em cada software. Com isso, as funções criadas para uma aplicação acabam sendo incorporadas por outras. E isso faz com que cada software acabe tendo funções que não deveriam ser originalmente suas.

Photoshop

O Photoshop, que é o mais popular dos três, é um programa para tratamento de imagens. O Photoshop sozinho não faz nada, mas permite que alguém, com o conhecimento necessário, faça coisas que até o diabo duvida! Justamente por ser o mais popular, o Photoshop acaba sendo o software que as pessoas mais usam para coisas que não deveriam, como fazer layouts para impresso, por exemplo. Eu já vi peças para impressão onde o BG (imagem de fundo), vetores, imagens, textos e até a marca do cliente estavam no mesmo arquivo PSD. Depois o PSD era importado no Illustrator apenas para dar saída em um PDF com marcas de impressão. Isso é, no mínimo, um equívoco.

O Photoshop deve ser usado para tratamento de imagens, para montagens, aplicação de filtros e efeitos. Ele até pode ser usado para criação de layout de referência. Ou para material digital como peças de redes sociais. Mas nunca para o layout completo de algo que será impresso. O que se deve fazer, em casos assim, é trabalhar com todos os elementos, de forma separada, no Illustrator ou no Indesign.

Illustrator

Embora seja originalmente uma ferramenta de desenho vetorial, o Illustrator tem muito do que se precisa para layout e impressão. Mas ele não é o mais indicado pra isso. Ele dificulta as coisas quando se tem imagens no arquivo (seja como links ou como incorporadas). Ele até consegue aplicar efeitos parecidos com os do Photoshop. Mas alguns deles são capazes de transformar um simples arquivo vetorial em um monstro devorador de memória e de espaço em HD. Além disso, o Illustrator não tem todas as funções de texto que encontramos no Indesign. E o principal problema, na minha opinião, é que, por ser um programa de ilustração vetorial, ele trabalha com processamento excessivo e bastante uso de memória, exigindo muito da máquina e da paciência de quem está trabalhando com o arquivo.

O Illustrator é indicado para desenho vetorial como ilustrações, marcas e elementos a serem aplicados em um layout. Também é possível usar para layout e para impressão, embora não seja o mais indicado pra isso.

E por último, uma pessoa com juízo não usa o Illustrator para fazer algo com mais de duas lâminas/páginas como livros, jornais, revistas ou catálogos. É pra isso que existe o Indesign.

Indesign

A ferramenta mais adequada para o trabalho de layout e diagramação é o Indesign, um software criado pela Adobe, em fins dos anos 1990, para substituir o PageMaker e disputar mercado com o QuarkXPress. O tempo passou, o Indesign foi conquistando mercado, foi evoluindo como ferramenta e hoje é o produto a ser batido. No momento não existe nada melhor que ele.

Se você vai fazer um arquivo para impressão que precise mais de 2 páginas ou lâminas, tudo que você precisa está no Indesign. Ele possui, nativamente, todas as funções necessárias para layout e finalização de arquivos para digital, off-set ou grandes formatos. Tem recursos de texto que não se encontra em nenhum outro lugar. É fácil de trabalhar com links e, principalmente, permite trabalhar sem exigir tanto processamento da máquina. Se você precisa de uma imagem com efeitos, faça esses ajustes no Photoshop e aplique a imagem no Indesign. Se você precisa de algum elemento vetorial mais complexo, faça no Illustrator, salve como EPS e use o arquivo no Indesign como faria com uma imagem. Se tem vários links dentro de um só arquivo, com dois cliques você faz uma cópia de todos em uma única pasta deixando tudo organizado. A quantidade de recursos do Indesign é tão grande que não vou conseguir colocar aqui. Fica para um novo artigo. O importante é mostrar que ele deve ser usado para fazer, melhor e mais rápido, o que alguns ainda fazem no Photoshop ou no Illustrator.

O Indesign é o programa ideal para layout e diagramação. Se disserem o contrário, desconfie da pessoa.

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